SABÃO, ARTE E FILOSOFIA
domingo, 29 de abril de 2012
CAPÍTULO VII
Capítulo VII
7.1 - Análises fundamentais
7.1.a – Amostragem média
É deveras importante que
a retirada de amostras
obedeça a padrões de uniformidade, pois desse modo se
obtém conteúdos fiéis do produto a ser analisado.
Deve-se, antes de qualquer
coisa, manter suspensão integral
da massa total,
evitando o depósito de sólidos e água
no fundo dos tanques,
o que permite que
se retire corretamente a amostra que
deve ser identificada a cada
compartimento de origem.
7.1.b – Determinação da textura
As gorduras e óleos, geralmente,
são fornecidos conforme
amostras e o procedimento imediato deve ser; I)Comparar a intensidade
da cor (cor
de iodo) com
uma solução de iodo-iodeto de potássio
de igual intensidade
de cor e com
o número de miligramas
de iodo livre
contido em 100 ml da solução;
II)Em seguida,
com uma camada
de 25 ml depositada no fundo de um becker, verificar se há turvações. Em caso positivo é
provável a adição
de água, resíduos,
albuminóides ou todos
a um só
tempo. III)Verificar
a viscosidade ao tato,
o odor e o paladar,
com certa
experiência estas simples
avaliações assumem papel significativo
e bastante eficaz
para confirmações
práticas e imediatas da qualidade de um
óleo ou
gordura.
7.1.c – Ponto de fusão
e solidificação
Com um capilar de vidro em forma de “U” e diâmetro
de 0,5 a 1,0 m/m, aberto nas extremidades,
aspira-se a gordura fundida para
o interior deste e deixa-se entrar em equilíbrio barométrico; em
seguida, coloca-se esse
capilar em
uma câmara de temperatura
controlada a 10°C, por 24 horas, para completa
solidificação, amarra-se, então, um termômetro, de forma que a superfície
da coluna de gordura
de um dos lados
do capilar coincida com
o bulbo da coluna
de mercúrio do termômetro,
depois se coloca este
conjunto em
um tubo
de ensaio com
40 m/m de diâmetro e com água suficiente para aquecer o sistema; não permita que
a água penetre ao capilar.
Aquecer o mais
lentamente possível
em estufa
com porta
transparente e iluminação
interna para
acompanhamento do processo. Quando
a gordura do capilar
estiver límpida e subir,
é tomada a temperatura
do termômetro. Este
é o ponto de fusão.
O ponto de solidificação
se determina colocando 4 a 5 gramas da gordura em um tubo de ensaio e, arrolhando-se este,
com um
termômetro através
da rolha, coloca-se o sistema montado,
de pé em
uma solução refrigerante
(25g de cloreto de amônio em 100ml de água).
A temperatura começará a decair
e, em um
determinado instante,
estabiliza para depois
cair novamente.
Este instante
é o que define o ponto
de solidificação da gordura.
7.1.d – Peso específico ou densidade
Pode ser diretamente
auferido através do areômetro, desde que este seja cuidadosamente inserido no óleo à temperatura
de, exatamente, 20°C, senão, para cada grau acima disso, seja adicionado 0,00069 ao número lido, se for abaixo
de 20°C, subtrai-se o mesmo valor da constante
a cada grau
abaixo. Pode-se, também,
misturar em vários recipientes
água destilada
e álcool absoluto
(99%) nas proporções que alteram a densidade
predeterminada da mistura ou seja, 0,950, 0,951, 0,952.., goteja-se o óleo nas misturas
identificadas, uma gota em cada, assim se este afundar em 0,950 e flutuar em 0,951, o peso específico
está localizado nessa faixa por menos de
0,0005g da menor ou
da maior banda
anotada, se ficar parada
acima ou
abaixo do ponto
médio da mistura
que pode ser feita em outro recipiente.
7.1.e – Determinação do teor de água
Em cápsula rasa de
porcelana com
um pouco
de areia calcinada, coloca-se 10g de gordura e leva-se à estufa
a 105°C até se obter
peso constante
(aproximadamente 90 minutos). O resultado apresenta a perda
a 105°C, incluindo alguns voláteis.
% de umidade +
voláteis = perda de peso X 100
peso da amostra
7.1.f – Impurezas e cinzas
Coloca-se num copo 10g de
gordura fundida em
banho-maria, adiciona-se 25ml de éter para dissolver
esta, mistura-se bem e passa-se por
um filtro
quantitativo, previamente seco, com tara determinada
e umedecido em éter.
A solução é recebida do filtro
em um
balão erlenmeyer, seca-se o filtro
a 95°C e pesa-se, o acréscimo de peso é o teor
de impurezas.
7.1.g – Percentual de ácidos graxos livres
Referência: método oficial B.S. 684.
Nesse método,os ácidos graxos livres são expressos como ácidos oléicos, em
óleos comuns
brutos ou
refinados.
Pesa-se de 2 a 10 g da gordura em erlenmeyer de 250 ml conforme
a acidez.
Acrescentar 50 ml de álcool etílico 95%, neutralizado com
uma solução acuosa de NaOH (0,1 n), usando 0,5 ml de
solução etanólica de fenolftaleína a 1%, como indicador.
Aquecer em placa térmica até apresentar sinais de ebulição.
Titular ainda quente com solução aquosa de NaOH(0,1 n), até
coloração rosada persistente
por 15 segundos.
Calcula-se:
% ácidos graxos =
V X N X 28,2 onde:
P
V = volume em (ml) da solução titulante.
N =
normalidade da solução titulante.
P = peso em gramas da amostra.
7.1.h – Índice de refração
O exame de um
óleo ou
gordura no refratômetro substitui com vantagens,
o índice de iodo
em muitos
casos, pela
simples rapidez
e comodidade.
Um dos aparelhos mais
difundidos é o refratômetro de Abbe, baseado na medida do ângulo
limite, utiliza apenas
uma gota do material
a ser analisado. Dispensa
o uso de recipientes
prismáticos e visores próprios.
7.1.i – Índice de
saponificação
Para o índice de saponificação (I.S.) ser
determinado, é preciso
uma solução alcoólica
de potassa cáustica
N/2 e ácido clorídrico
também N/2, pesa-se 2 g de gordura em um erlenmeyer de 200 ml, adiciona-se 25 ml de solução alcoólica de potassa cáustica,
fixa-se um tubo
longo sobre
o balão para servir de condensador.
Aquecer por
trinta minutos em
banho-maria empregando como indicador,
fenolftaleína, depois titula-se com ácido clorídrico N/2 até
descorar.
A solução alcoólica
de potassa cáustica
prepara-se co 28g de hidróxido de potássio em
1.000 ml de álcool neutro.
Calculando:
Admitindo-se que para 25 ml de solução alcoólica corresponda 25,2 ml de ácido
clorídrico N/2, teremos:
25ml de potassa alcoólica
= 25,2 HCl N/2
Retrotitulando
10,1 HCl N/2
Combinado 15,1
HCl N/2
1 ml HCl N/2 =
0,28 X 15,1 = 0,4228g KOH
Amostra = 2,00g
(I.S.) = 0,4228g
= 0,2114 ou (I.S. = 211)
2
7.1.j – (I.A.) Índice de acidez
Coloca-se 5g de gordura em um copo, dissolve-se em
álcool neutro
com adição
de éter neutro
e algumas gotas de fenolftaleína como indicador,
titula-se com solução
de potassa cáustica
N/10 até leve
coloração rosada. Dos mililitros consumidos se calculam os miligramas de potassa
cáustica e divide-se pelo
peso da amostra,
e este será o índice.
Para se obter o grau de acidez se calcula através
do índice obtido como
segue:
I.A. X 0,100 onde:
0,056
0,056 = (gramas de KOH em
ml de sol. KOH N/1
Como
0,100 é uma constante = 1,785
0,056
O grau de acidez(G.A.)é:(I.A.)
X 1,785 = (G.A.)
Análises principais, sabões
7.1.k – Amostragem
Recolher material do miolo
do bloco (usar
um tubinho), reduzir
a finas lascas, acondicionar
em recipiente
de vidro ou
porcelana hermético,
se for pastoso deve ser
amassado e homogeneizado e do mesmo modo acondicionado, se for líquido
deve ser bem mexido antes de se tirar amostras, o que
se faz com o material
todo em
movimento, separar
e acondicionar. Todo
o material recolhido deve ser
identificado com o lote
de origem.
7.1.l – Teor de água
Numa cápsula rasa de porcelana
pesa-se 5g de sabão finamente
raspado, mistura-se a este uma quantidade definida
de areia fina
calcinada, pesa-se um bastão de vidro
e coloca-se na cápsula. Deixa-se secar então a 105ºC durante 30 minutos,
retira-se da estufa e mistura-se a areia e o sabão
e coloca-se novamente na estufa a 105ºC por
50 minutos, esfria-se então no secador
e se pesa o conjunto
novamente. A diferença
de peso é o teor
de água e materiais
voláteis a 105ºC.
7.1.m – Determinação de álcali livre
Pesam-se 5 g de sabão em um
erlenmeyer, dissolvem-se em 100ml de álcool de 60%, em
banho-maria com
o auxílio de um
condensador de refluxo, adiciona-se ao material dissolvido, uma solução
de cloreto de bário
a 10%, com o que
os ácidos graxos
precipitam como sabões
insolúveis de bário
e os carbonatos como
carbonato insolúvel
de bário, titula-se sem
filtrar com ácido clorídrico
N/10, empregando-se fenolftaleína como indicador. O ácido
clorídrico deve gotejar
lentamente no material
e o balão é bem mexido durante a titulagem, e assim
que a coloração desapareça a titulagem
está pronta.
Para calcular o álcali livre multiplica-se o número
de ml de ácido consumido por 0,004 para soda cáustica e
por 0,0056 para
a potassa cáustica
e calcula-se para 100, assim
se obtém o álcali em
percentual. A fenolftaleína se prepara com 1 g
de fenolftaleína em 100ml de álcool anidro.
7.1.n – Determinação de cloreto de sódio ou potássio
Incinerar 5 g
de sabão e dissolver
o resíduo em
água, adicionar
a mistura com
ácido sulfúrico diluído para
decompor os carbonatos,
aquecer a 60ºC. Na presença
de 1 gota de fenolftaleína neutralizar com KOH
N/10, acrescentar, então,
10 goras de uma solução de cromato de potássio (1:10), gotejar
uma solução de nitrato
de prata N/10 até
o precipitado branco ficar
levemente avermelhado. Este precipitado de cromato e prata
que se forma logo no início
da adição da prata
permanecerá assim, enquanto
o cloro precipita como
cloreto de prata.
O número de ml de solução de prata
consumida multiplica-se por 0,00355 para calcular o cloreto, por
0,00585 para o sal
de cozinha e por
0,00746 para o cloreto
de potássio.
7.1.o – Silicato de sódio, determinação qualitativa
Para se determinar a presença de silicato de sódio no sabão, deve-se dissolvê-lo em
água, filtrá-lo em
presença de substância de
carga insolúvel
em água,
adicionar ao filtrado ácido
clorídrico até
reação fortemente
ácida e aquecer
em banho-maria
até a separação
dos ácidos graxos
completamente, misturar
uma quantidade de parafina
e deixar esfriar.
Quebra-se a casca formada e escorre-se o
líquido do interior
para um copo e evapora-se até
a formação dos flocos
de ácido silícico precipitado, o que ocorrerá se no sabão
contiver silicato de sódio.
7.1.p – Determinação de talco
O sabão dissolvido em água quente é passado
por um
filtro e desprezado, o filtro deve ser incinerado em cápsula de porcelana com tara determinada.
O aumento de peso
da cápsula corresponderá aos materiais insolúveis
em água,
principalmente o talco.
quarta-feira, 25 de abril de 2012
CAPÍTULO VI
Pequeno receituário*
Sabão em pasta
Um
produto muito prático de confeccionar, normalmente produzido sob fervura de
vapor indireto, com gorduras e hidróxido de potássio, é fornecido ao mercado
consumidor em embalagens plásticas, indicado, principalmente, para limpeza de
louças e talheres lavados à mão. Produto fabricado pelo processo de empaste
(3.4.b – Cap. III).
·
A) Sebo.................44 kg
Óleo de algodão......50 kg
Lix. de potássio.....39,6 kg – 50°Bé
·
B) Sebo.................40
kg
Óleo de coco.........30 kg
Óleo de algodão......25 kg
Óleo de palma.........5 kg
Lix. de potássio.....42,9 kg – 50°Bé
·
C) Sebo.................80 kg
Soja.................20 kg
Lix. de potássio.....39,6 kg – 50°Bé
·
D) Ácido esteárico......75 kg
Água filtrada........25 kg
Trietanolamina.......25 kg
(Procedimentos em D)
- Neutralizar primeiramente o ácido com
a trieta, equilibrar o (p.h.) em 7,5 aumentando a trieta ou acrescentando
oleína clara, agitar energicamente com a temperatura ao redor de 80°C, adicionar, então, a
água. Produto especialmente indicado para tratar prataria. Pode-se obter melhor
resultado baixando-se o (p.h.h) para 6,5 com ácido oxálico.
As
gorduras destas receitas devem ser filtradas e de ótima qualidade, serão
escolhidas conforme a região de maior facilidade e produção por motivo de
custos. Evitar o excesso de água, pois esta deprecia demasiadamente o produto.
Sabão abrasivo
Este
sabão pode ser produzido em pasta como os anteriores ou ainda, sólidos em
barras, tendo a preferência, no entanto, os primeiros.
Em
pasta
Qualquer
das receitas anteriores, acrescidas de pó bem refinado de dolomita ou talco de
ótima procedência para limpeza de materiais finos.
Abrasivo
sólido
Sebo.............100kg
Amido seco.......20kg suspensão no sebo
Lixívia de soda...43,12, de 38°Bé (NaOh)
Dolomita ou talco.16kg
O
abrasivo é incorporado ao material quando este já estiver em fase de
solidificação ou seja, uma pasta consistente no misturador.
O
produto acima descrito, é indicado para processamento em extrusoras.
Desengraxantes
Trata-se
de sabão comum, sólido ou pasta, aditivado com nonil fenol de óxido de etileno
a 9,5 ou álcool ceto estearílico a 10 moléculas de óxido etilenico ou uma soma
dos dois, totalizando 1,5% do sabão produzido.
Desengraxante
em pasta
Qualquer
das receitas de pasta acrescidas de 1,5 a 3% de um dos emulsionantes referidos.
Desengraxante
sólido
Sabão
aditivado com 1,5 a
3% dos produtos citados na hora de homogeneizar nos compressores (extrusão).
Sabão líquido –
Sabonete –
Pode
ser utilizado como sabão ou sabonete dependendo dos aditivos aplicados, será
consumido como sabonete em cinemas, hospitais, restaurantes, etc.., sendo
explorado também, para uso em máquinas de lavar roupas e para limpeza geral, é,
normalmente perfumado.
Sabonete
líquido transparente
·
a) Gordura de coco...............50 kg
Óleo de rícino................10 kg
Lixívia potássica 50°Bé.......28 kg
Água filtrada................150 Lt
Depois de
neutralizado e frio aditivar com:
Ácido cítrico..................0,25 kg
Mentol.........................0,25 kg
Corante, pasta de 30%..........0,03 kg
Perfume........................0,80 kg
São
receitas de ótimos produtos e extrema delicadeza para o contato com a pele, não
provoca o ressecamento desta.
Sabão
líquido p/ roupas (máquinas)
·
b) Gordura
de coco..............100 kg
Lixívia potássica 50°Bé.......51,20 kg
Água quente filtrada.........450 Lt
Bater
intensamente (mix), confirmar a neutralização, deixar esfriar. Depois de frio,
com agitação forte adicionar:
Tripolifosfato de sódio.......12 kg
Metasilicato de sódio.........10 kg
Carbonato de sódio.............4 kg
Regular
o (p.h.) entre 7,5 e 8,0 (levemente alcalino) com ácido oléico e batimento enérgico.
Aditivar
com 1,5 a
2,0 de nonil fenol (9,5) ou álcool ceto estearílico (10) e se terá um produto
de excepcional qualidade.
Sabão
de “borras” (subproduto de refinaria)
Esse
é o caso de produto de uso popular de baixa qualidade, porém, devido ao baixo
preço de venda é um material de boa demanda.
(soapstock) – Sabão de
“borras”
Antecipadamente,
deve-se saber do refinador, o percentual de ácidos graxos disponível no
material ou então, determina-lo, quando este for pobre (o que sempre é),
acrescenta-se de 20 a
50% de uma gordura comum de (I.S. 200
a 250).
O sabão
Borra de soja a 15% á. graxos...100 kg
Sebo (bovino)....................30 kg
Lixívia 38°Bé NaOH...............21,67 kg
Se
preferir, adicionar 0,05 kg
de corante em pasta e perfume “barato” 1%.
Produto
para extrusão.
Sabão em pó
Produto
quase totalmente substituído pelo detergente sintético (p-dodecil benzeno),
ocorre ainda, alguma procura em determinadas regiões e há, no mercado em geral,
uma confusão generalizada em aceitar o detergente em pó pela designação
de sabão em pó, em verdade, estes são incompatíveis e, completamente
diferentes, na concepção, coincidindo, apenas, na forma de apresentação e uso.
·
a)
Sabão produzido em misturador “pesado”
Forma
uma massa de alta consistência e, no batimento, evolui até a secagem
transformando-se em pó.
Sebo......................100
kg
Lixívia forte, 50°Bé.......28
kg
Carbonato de sódio anidro...8
kg
Produto
que pode ser aditivado com amido de milho, 15% do peso de sebo, este deve ser
misturado e bem homogeneizado à gordura antes de colocar a soda ou carbonato,
esta “carga” deixa o sabão menos agressivo.
No
reator, quando começar a formação da pasta, adicione:
Sulfato
de sódio.......150 kg
Metassilicato
de sódio...6 kg
Tripolifosfato
de sódio..6 kg
Atenção: - Este produto é
fabricado completamente a frio, com exceção do prévio aquecimento leve do sebo
(máximo 60°C)
para torna-lo líquido. A temperatura subirá espontaneamente durante o processo.
·
b) Um detergente
sintético popular
Ácido sulfônico............15
kg
Água morna filtrada........80
kg
Silicato de sódio neutro...60
kg
Sulfato de sódio anidro...100
kg
Metasilicato de sódio.......5
kg
Tripolifosfato de sódio.....5
kg
Corante azul.............20 gramas
Misturar muito bem no batedor (forma um
líquido viscoso), adicionar 0,8
kg de ácido sulfúrico fumegante com muito cuidado e
lentamente, deixar bater até distribuir bem todo o ácido, desligar o
equipamento quando notar início de “empastamento”, espalhar o material cuja
espessura da lâmina não ultrapasse 10 milímetros, em um
piso liso e muito limpo, em aproximadamente 4 horas o material espalhado estará
seco em forma de agulhas (aparência de bolor super desenvolvido) na cor azulada
peculiar.
Sabão para cromados
Esse
tipo de sabão é aplicado em materiais a serem polidos quando da lavagem.
Utiliza-se
qualquer das receitas de sabão em pasta e se adiciona 3% do seu peso total de
cera de carnaúba derretida, colocada no óleo antes de ser neutralizado.
Esta
receita pode ser aditivada com 10 ou 15% de talco finíssimo de ótima qualidade.
Sabões de uso
veterinário
São
sabões consumidos para higiene e tratamento de animais, têm funções
bactericida, inseticida, fungicida, etc..
É
fornecido líquido ou em barras e basta executar as receitas acima acrescentando
os ingredientes fármaco-ativos, por exemplo:
Até
3% de enxofre, age contra sarna e
outras afecções da pele animal.
1% de lindane, age contra piolhos, pulgas e vários outros
insetos parasitas.
3% de extrato ou tintura de confrei, age como cicatrizante
da pele.
5% de cânfora farmacêutica, age contra dores musculares
provenientes de friagem ou traumatismos leves.
6% de formalina a 40%, age com excepcional eficácia como
germicida geral.
3% de ácido fênico, age como coadjuvante na secagem de
feridas em fase de cicatrização, ótimo bactericida.
5% de verniz “goma-laca” indiano, o “asa de barata” mais 1%
de cera de carnaúba(flor de carnaúba), age produzindo brilho e corpo na pelugem
do animal de exposição.
Sabonetes
Esse
produto merecerá o capítulo VIII inteiro, desde o “sabão básico” fundamental
até os mais sofisticados cremes, pois se trata aqui de um ícone da
saponificação industrial.
* – As receitas deste trabalho
devem ser entendidas apenas como sugestões, não cabendo ao autor ou editores
responsabilidade sobre as mesmas.
domingo, 22 de abril de 2012
CAPÍTULO V
Capítulo
V
Produzindo o sabão
Adentraremos assim, no pavilhão fabril imaginário, onde iremos
elaborar o produto objeto desta obra; o sabão, com as mais
variadas versões possíveis. Para chegarmos a ele, discutiremos várias receitas,
teremos contato com muitos equipamentos, optaremos quase sempre, por mais de um
caminho para uma única solução, decidiremos qual a melhor opção entre os
materiais diversos, cometeremos erros e vamos buscar “concertá-los” com mais de
uma alternativa, como se isso, mesmo durante a leitura, nos causasse prejuízos,
buscaremos ainda, “saídas” inovadoras ou boas idéias antigas, às vezes, até
esquecidas, partiremos para a tentativa e erro, em verdade, compararemos a
indústria a uma “salada” original cujo tempero principal é a criatividade e o
risco de deterioração está no “ranço” das idéias acomodadas.
Falaremos, inicialmente, sobre as receitas, pois delas
extrairemos nossa experiência.
A receita “da vovó” de antigamente, era o sabão de cinzas
(potássio). Depois de pronto, “ela” colocava sal de cozinha no sabão “pra
ficar bão”, o que se sabe é que assim, “ela”, inconscientemente,
trocava as bases; i. é, potássio saía, sódio entrava, isso porém, é
história.
“A vovó” moderna, já tinha outra
receita, pois fazia o mesmo sabão, com sódio, a “velha soda cáustica”. Com
certeza, as duas receitas são, de fato, “das vovós”, pois ambas são
muito antigas, entretanto, “a vovó” que fazia sabão de cinzas pode ser
quase “pré-histórica”, porque, “historicamente” a produção do hidróxido
de sódio é uma tecnologia considerada “moderna”.
O sabão de potássio fabricado das cinzas é folclórico em quase
todo o planeta, “quase” por precaução literária. É sempre lembrado nos “contos”
das velhas fazendas e lugarejos interioranos. Porém, partindo da potassa cáustica
(hidróxido de potássio), hoje se fabrica ótimos produtos para uso geral.
O “velho” sabão de cinzas foi, respeitosamente, lembrado com
destaque na introdução desta obra “referências históricas...”. Uma observação
importante é não confundir “cinzas” com potassa industrial (qualquer
apresentação do potássio), utilizada amplamente pela indústria. O sabão de
sódio gerou a indústria atual, ele evoluiu e fixou “morada” em nosso cotidiano.
As receitas, mesmo as antigas, serão referentes a esse tipo de sabão, “quase
sempre...”.
As receitas
Uma antiga: - Sabão em grão de
sebo
Hoje, completamente obsoleta, entretanto, uma verdadeira
obra-prima do fim do século IXX, trata-se de um sabão de ótima qualidade,
porém, os meios de produzi-lo levariam qualquer empreendimento ao fracasso nos
nossos dias.
O sebo tem a preferência na aplicação, no entanto, seriam
aceitas além dele, outras gorduras, como a de palma, por exemplo, deve-se,
contudo, evitar as de empaste (I.S. bem acima de 200). Com a gordura preparada
no tacho (consideradas, ao menos, as principais análises), inicia-se o
cozimento (vapor indireto), com lixívia inicial de, no máximo, 10°Bé, o batedor
deverá estar ligado constantemente, após algumas horas (± 3) nota-se a formação
da emulsão bem homogênea, adiciona-se, então, outra parte de lixívia, desta
vez, no máximo de 15°Bé, o mais lentamente possível (partindo de um tanque
lateral superior, em um filete bem fino) mantendo o batimento sem parar,
nota-se novamente que a emulsão volta a ficar estável e com aparência mais
definida que antes (isso, de 2 a
3 horas depois), nesse momento, ela apresenta um brilho perolado e escorre em
grossos filetes na colher de inspeção (madeira, parecida com um remo),
coloca-se aí, o restante da lixívia com, no máximo, 20°Bé e deixa-se bater por
mais 6 ou 8 horas em uma temperatura próxima de 95°C, verifica-se, então, o
“ponto”, separando-se pequenas amostras da massa sobre a beirada da caldeira ou
sobre uma prancheta de madeira, essa amostragem solidificará como cera “dura”,
porém macia, apresentará ainda, uma “auréola ou coroa” com vários tons de
vermelho, azul e brilho prateado, desliga-se, então, os equipamentos e o vapor,
cobre-se o tacho (evitar o choque térmico) e deixa-se em repouso por 12 a 24 horas,a quantidade de
sabão é quem determina o tempo (falando-se de mais de 10 toneladas de
material). Assim, ocorrerá a estabilização completa da massa, confirma-se o
“ponto” e retifica-se, se necessário for, adicionando soda ou gordura em
pequenas porções, dependendo da acidez ou alcalinidade observada, liga-se
novamente o batedor e leva-se à fervura o conteúdo do tacho por curto período (30 a 60 minutos) até confirmar
a neutralização completa pela nova amostragem.
A partir desse ponto, a tarefa é “salinizar” o conteúdo da caldeira,
com uma salmoura de 6 a
8% em fervura, “lava-se” a massa por duas ou três vezes, deixando descansar, a
cada lavagem, o tempo necessário à decantar a água carregada de sal e glicerina
que será escoada por válvula apropriada. Como já se explicou a “micela” ou
“bolo” resultante da lavagem irá ao centro do tacho ficando a cada momento mais
firme e limpo, mas, ainda será um “creme” muito espesso, porém, móvel, logo,
assim que separada a água de glicerina será possível envasar para as formas ou
moldes onde o sabão puro tomará forma e solidificará depois de vários dias ou
mesmo mais de uma semana. A salmoura da lavagem contendo glicerina, pode ser
vendida diretamente aos destiladores, se não houver interesse em destilá-la na
própria fábrica. Ao desenformar o sabão, notar-se-á uma tonalidade geral
embaçada e, no meio, se verá várias faixas brilhantes de aparência metalizada
ou cristalizada e a isso, se dá o nome de fluxo (o embaçado) e grão (o
cristalizado).
Logicamente, a própria receita deixa óbvio que ela é totalmente
impraticável hoje em dia, principalmente, do ponto de vista econômico, quando,
em verdade, é só ele que conta, atualmente. Entretanto, ela é muito útil sob o
prisma da didática, esclarece de modo singular, vários detalhes práticos que
podem ser aproveitados como base experimental.
Vamos, portanto, comentar esta receita, como se nós a tivéssemos
encontrado num “baú” e dela teríamos a pretensão de tirar conhecimentos e
formar conceitos atuais para criar um processo eficaz. Ela só, é insuficiente,
mas, ainda assim, um bom começo.
Para isso, a análise das transformações físicas ocorridas é mais
importante do que a reação química, assim, ácido + base = sal, fim da reação.
Como isso ocorreu e por que? é o que nos fornecerá dados para um método alternativo.
No começo do século XX, a conhecida lei da ação das massas era
entendida como um fator absoluto que determinava com total rigidez a marcha de
uma reação, isso é uma verdade, desde que não se interfira com ela. O homem,
entretanto, pode ser um agente de intervenção e já descobriu que existem outras
“verdades” que influenciam esta lei natural e que podem até anula-la em
condições artificiais. Vejamos, esta lei se apóia no equilíbrio universal, ela
diz : “- Quanto maior a absorção, menor a avidez” ou seja, usando a receita, no
início da saponificação a reação deveria ser violenta e no fim, dificultosa e
até interrompida. Isso, contudo, não ocorreu, por interferência do conhecimento
humano, pois a adição de lixívia fraca no início da reação dificulta o contato
superficial em grandes proporções e menos álcali penetra as moléculas de ácidos
graxos liberando glicerina, já ao final, a colocação de lixívia forte (20°Bé)
compensa a dificuldade natural da reação, logo, a velocidade da reação é a
mesma do começo ao fim.
Nós, entretanto, não nos daremos por satisfeitos sem, pelo
menos, praticar uma experiência. O que aconteceria, se nessa caldeira aberta e
com sebo quente, nós colocássemos a lixívia em alta concentração de uma única
vez?
Devemos relembrar a afirmação de que, no início, a reação será
violenta.
Mas, a curiosidade é
impetuosa e a caldeira é imaginária, portanto, vamos saber até onde vai a
violência da reação.
Vamos usar uma lixívia de 38°Bé, calcular a quantidade em função
do sebo disponível ligar o batedor, abrir totalmente a válvula da lixívia e,
logicamente, sair rapidamente do recinto.
Depois de muitos minutos de espera e suspense bem longe daquele
local, notaremos que não ocorreu explosão e nem mesmo algum efeito estranho,
com cuidado, voltaremos à caldeira, imaginando que a válvula da soda emperrou
impedindo a mistura. Porém, o que notamos é algo que, aparentemente, não tem
lógica, assim, deduzimos, apressadamente, que essa tal “lei da ação das
massas” está completamente errada, e “não sabe o que faz”! Pois,
como nós, “que entendemos de tudo”, poderíamos ter nos equivocado..?
além de não cumprir a “promessa” de violência, essa “tal lei”,
encheu nossa caldeira de pedrinhas de sebo flutuando na solução de soda..!
Isso, “é um abuso”..!
Na verdade, o que ocorreu, de fato, foi uma ação de enorme
violência, aliás, tão violenta, que nem mesmo chegou a se concluir.
A explicação lógica é que sendo, o sebo, um material de menor
peso específico do que a lixívia, tende a flutuar nesta. O batedor, porém, não
permite a separação em uma linha definida entre os dois materiais, pois o braço
mecânico não para de agitar o conteúdo do tanque, assim, na lâmina de contato
superficial entre os reagentes, a reação ocorre instantaneamente e se contrai
na mesma velocidade, mas o braço mecânico, “quebra” a “casca” formada em vários
pedaços colocando outra porção dos materiais em contato que reagirão novamente
formando nova lâmina que quebrarão em novas lascas.., e assim, até chegar a
ponto de ser consumido o sebo em quantidade suficiente para entrar em ação a “lei
das massas”, injustamente acusada de ineficiente. As “pedras” que vemos na
caldeira são pequenas e muitas ao final, assim, o braço gira e apenas muda-as
de lugar porque, por inércia, elas bóiam na soda que não reagiu e o mecanismo
não as alcança deixando de exercer ação direta sobre os minúsculos pedaços.
A reação não tem mais como acontecer, o equipamento pode ficar
ligado “ad’eterno” , a soda secará por evaporação e o que existirá na caldeira
será um pó mal misturado que irritará a pele quando em contato.
Mas, por que as partículas não se transformaram em sabão como se
previa..? - por pura falta de superfície exposta! Podemos comparar as
“pedrinhas” a um “pãozinho” fresco, o contato com a soda “forte” provoca uma
reação muito enérgica ao contato entre as faces (soda/gordura), formando, desse
modo, uma “casca” de sabão desequilibrado cujo (p.h.) é muito elevado
(alcalinidade alta), devido o excesso de exposição à lixívia durante a
flutuação. Ora.., esse efeito age como escudo para o resto do material, por
isso temos uma “casca” alcalina protegendo um “miolo” ácido. Poderíamos até
discutir a possibilidade de que, com o “passar do tempo” (meses ou anos), a
soda por fim atingiria o miolo, analogamente ao efeito da ferrugem nos metais
ferrosos, mas, no caso da soda, isso seria impedido pela formação do anidrido
carbônico que consumiria esta antes que “esta” consumisse o ácido graxo do
“miolo”.
Poderíamos, todavia, considerar que tivéssemos, na caldeira, um
sebo inferior com muito ácido graxo livre, nesse caso teríamos, no mínimo,
muito sabão de péssima qualidade espalhado pelo recinto da caldeira, pois o
ácido graxo livre tende a reagir fermentativamente e com facilidade, pelo fato
de já estar livre da glicerina, libera, durante o processo, gás de amônia,
resultado da fermentação da gordura, onde micro organismos atuaram realizando
complexas reações com o oxigênio e o nitrogênio do ar, isso provoca espuma e,
portanto, uma superfície peculiar com medidas estratosféricas e que crescem,
diretamente proporcionais a ∏ (pi) vezes o cubo da soma do calor fornecido com
o calor produzido na reação, essa expansão é contida apenas pela pressão
atmosférica que, pouco ou nada representa, contra a força descomunal da reação,
a superfície formada ocasiona um contato íntimo fantástico entre os materiais
(ácido e lixívia) e essa reação, depois de iniciada, não permite interrupção
dada a velocidade em que ela ocorre. Tais reações já foram responsáveis por
enormes explosões em autoclaves, arrastando fábricas inteiras para o “ar”.
O comentário sobre esta receita já nos fez ver que a superfície
no processo de saponificação, é fundamental. Ela é, sem dúvidas, a principal
responsável por uma reação molecular, vamos guardar essa informação.
Outra receita
Sabão de empaste, semiquente
100 kg de gordura de
coco ou palmiste
59 kg de lixívia de
38°Bé de NaOH (soda)
40 kg de silicato
de sódio neutro
ou
100 kg de gordura de
coco ou palmiste
62 kg de lixívia de
38°Bé de NaOH (soda)
80 kg de silicato
de sódio neutro
Coloca-se na caldeira, a gordura e eleva-se a temperatura por
volta de até 80°C,
num recipiente à parte podemos misturar a lixívia ao silicato e, lentamente,
adiciona-se à gordura no batedor, que trabalhará até a emulsão se completar,
corta-se o calor (vapor no encamisamento), deixa-se bater por mais uma hora ou
pouco menos, o clima da região é quem decide, coloca-se nas formas agitando,
ainda um pouco quando se nota o início da solidificação, esse procedimento é
desnecessário se o material for envasado para placas de resfriamento, no
segundo caso, o tempo de formação é relativamente curto, poucas horas e até
minutos dependendo do equipamento utilizado. Depois as placas serão abertas
sobres as mesas de corte em “L” (fig. Pág.XX) e forçadas contra um conjunto de
fios ou facas com medidas definidas, formam-se, desse modo as pedras de sabão.
Esse sistema de cortes, apesar de antigo, é de uso comum em pequenas
instalações, principalmente as rurais e, também, pelos fabricantes de sabão de
coco a frio.
Esse é o caso de uma receita bem antiga, no entanto, em prática
até os nossos dias, por ser extremamente simples e produz sabões populares
baratos.
Dedicaremos os comentários dessa receita à prática dos cálculos
necessários e que foram apresentados no (cap. II, funções técnicas..). Vamos,
novamente, nos utilizar da participação do Leitor para uma maior assimilação da
técnica operacional.
Voltamos então, novamente, à nossa “fábrica” imaginária, onde já
se encontra na caldeira, a gordura à espera de neutralização.
Conforme a primeira relação de material da receita, nós
dispomos, no batedor, de 100
kg de gordura. Pretendemos, por uma questão de custos,
independente da qualidade final, que no caso, é pobre nas duas relações,
adicionar 40 kg
de silicato de sódio neutro na primeira receita e saponificar para obtermos o
produto.
Sabendo-se que esta gordura de coco tem um índice de
saponificação (I.S.) 253 e vamos trabalhar com uma lixívia de 38°Bé, conforme a
receita, podemos ir à tabela 4 (pág.53) e localizaremos lá a quantidade de hidróxido
de sódio (NaOH), tecnicamente puro que serão necessários à saponificação de 100 kg de gordura de coco,
faremos os cálculos para ajustarmos os pesos correspondentes à solução de
38°Bé, multiplicaremos pelo fator de pureza do produto (100%) e dividiremos
pelo fator de pureza comercial (≈98%).
Muito fácil, mas, e se não dispusermos da tabela? Como vamos
agir? bem.., nesse caso, a organização prevalece! Nas análises efetuadas para o
recebimento do produto consta o peso molecular da gordura, e nós encontramos
lá, o número (P.M.221), então continua fácil. Conforme o (Cap. I, 1.3.b –
I.S.), iremos proceder o cálculo da seguinte maneira:
(P.M.) = 221 X 3 = 663 de
acordo com anotação da (pág.54).
Portanto:
663g-----56g X 1.000 X 3
1g--------I.S. -------► 1g X
56g X 1.000 X 3 = I.S.
663g
E,
por fim, nós obtivemos o índice de saponificação mais “difícil” e menos
“conhecido” de todos os fabricantes de sabão, o “incrível” (I.S.253), para a gordura
de coco.
Para
continuarmos os nossos cálculos, iremos, agora, ao (Cap.II, funções
técnicas...) novamente, e lá, encontraremos no item (2.1.b) a constante de
saponificação comercial, i. é, “uma constante prática”, ela é
aproximada, porém, muito útil. É a relação que existe entre todos os óleos
comuns de mercado e os pesos necessários de hidróxido de sódio tecnicamente
puro para a neutralização completa entre eles. Com esses dois dados
disponíveis, determinaremos as quantidades de soda indicada, vejamos:
I.S. X 0,0716 = (NaOH)kg --►253 X
0,0716 = 18,11 kg
A
partir desse valor procederemos a compensação para o produto comercial, como
segue:
Produto
puro 100%
Produto
comercial 98% logo;
18,11 X 100 = 18,48 kg
98
18,48 kg de soda comercial a 98% neutralizam 100 kg de gordura de coco.
Ainda
nos resta reduzir a 38°Bé esta quantidade de soda. Novamente indo ao (Cap.II),
agora no item (2.1.a), lá encontraremos outra constante, esta porém, é exata
(técnica), a constante de Baumé, e com ela vamos determinar o peso específico
da lixívia de 38°Bé, de acordo com a indicação do item referido, devemos
utilizar a 1ª fórmula, pois o peso específico procurado, nós sabemos ser maior
que o da água, portanto:
__145,88___ = 1,352
aproximadamente
145,88 – 38
Pois
bem.., já dispomos de todos os dados, então vamos proceder os cálculos.
Conforme a tabela 2, nós encontramos 0,441 kg de soda pura
(considerada seca) por litro de lixívia a 38° Bé que pesa 1,352 kg, portanto:
18,48kg = 41,90 litros, onde:
0,441
41,90 X 1,352 = 56,65 kg
56,65 kg de lixívia, aí está a quantidade em quilogramas
suficiente para neutralizar 100
kg de gordura de coco. Mas, como podemos observar, esse
valor não coincide com o da relação de materiais da receita, pois lá lemos 59 kg.
Bem, ocorre que nessa receita optamos por silicato como “carga” e isso altera o
percentual de soda na receita obrigatoriamente, o silicato de sódio absorve o
equivalente a 2,283% de soda (NaOH), aproximadamente 7% de lixívia em
concentração de 38°Bé, logicamente, se não fornecermos a quantidade exigida,
ele a “roubará” do sabão desequilibrando, assim, o balanço na neutralização e
por isso nós aplicaremos o percentual correspondente, como segue:
No
primeiro caso, 7% de 40 kg
de silicato de sódio correspondem a 2,8 kg, assim:
56,65
kg de soda calculada
2,80 kg p/ compensar o silicato
59,45
kg de soda total
Obviamente,
houve um arredondamento de 0,45
kg de lixívia, porém, a esse tipo de receita é um
procedimento razoável, pois a qualidade também é “razoável” como já afirmamos.
É
claro que a “nossa fábrica”, produzindo esta receita, dificilmente iria
dispor das análises referidas, mas cabe notar que é esse o procedimento correto
para a obtenção de padrões de destaque positivo no mercado consumidor.
Uma receita “jovem”; - máximo 130 anos,
em pleno uso
O
sabão preparado a frio
A
preparação desse sabão, é de uma flexibilidade, verdadeiramente “milagrosa”,
esse é o principal motivo de estar ainda hoje em plena propagação industrial,
considerando, quase que exclusivamente, o pequeno produtor, é preparado com “mil
máscaras”, mas é, fundamentalmente, o mesmo. A fórmula básica é singular; -
100 partes de gordura de coco, se neutraliza com 56 partes de lixívia de NaOH a
38°Bé, alguns autores recomendam apenas 50 partes de lixívia, sob a
alegação de chegar a um produto mais suave apesar de ficarem alguns ácidos
graxos livres, o que, em verdade, para a gordura de coco, não exerce muita
influência no produto final.
Qualquer
gordura ou óleo saponifica a frio, a de coco porém, tem a preferência absoluta,
pois o preparo e extremamente simples, os estabelecimentos pequenos utilizam um
sistema de grande agilidade e quase sem custo operacional.
Quando
recebem a gordura de coco, normalmente em tambores de 200 kg de material, eles,
inicialmente, “juram sobre a bíblia” que as análises foram
realizadas, então, com um simples fogareiro a gás, fundem completamente a
gordura no próprio tambor, depois envasam o conteúdo em um equipamento muito
comum nos porões das velhas padarias, conhecidos pelo nome de “amassadeiras
ou masseiras”, cuja capacidade de mistura é de, aproximadamente, 300 kg, ligam a máquina e,
lentamente, deixam escorrer 100
kg de lixívia a 38°Bé, em menos de 60 minutos o produto
está nas formas, desde que não se acrescentem cargas.
O
comentário dessa receita, nós dedicaremos ao comprometimento do “ganha-pão”
dos “Gurus do sabão” alinhados nos classificados dominicais “...aprenda a fazer sabão quase de
graça...”! esse “quase de
graça...” deixa qualquer um na miséria.
Como
já afirmamos, essa fórmula é de grande versatilidade, isso devido ao fato de
que a gordura de coco absorve quantidades enormes de salmoura ao limite da
saturação (24%) ou seja, com 50
kg de gordura de coco, nós conseguimos, se quisermos, inserir
250 kg
de solução de sal a 23°Bé, e isso requer pouquíssimos cuidados e é
muito fácil; vejamos o rendimento:
50 kg gordura
25 kg lixívia
250 kg salmoura a 23°Bé
325
kg total de sabão ou quase sabão
Esse
é um resultado impressionante e alentador para um consumo popular de poucas
exigências no que refere a qualidade.
A
estas categorias de sabão, os profissionais “carinhosamente” apelidaram
de “água em pé”, o que nada mais é, do que o aperfeiçoamento tecnológico
do “ovo de Colombo”.
Agradecendo
a “paciência” com o humor dessas linhas, nós iremos agora, produzir uma versão
desta receita que fará “corar de inveja” os “Gurus do sabão”
apenas pelo preço pago pelo Leitor por este manual.
Vamos
então, voltar ao pavilhão da “nossa fábrica”, para produzir um sabão de coco
verdadeiramente industrial, prático e popular, terá a aparência e a qualidade
compatíveis com um custo plenamente viável ao consumidor.
Primeiramente,
precisaremos do equipamento, que deve, obrigatoriamente, custar pouco, porque a
“nossa fábrica” é nova e com pequena disponibilidade financeira.
Nós
usaremos como “tacho” uma “caixa d’água”, essas redondas de plástico reforçado,
são ótimas, sua capacidade deve ser de 500 ou 1.000 litros. Mas..,
como iremos lidar com o aquecimento? - Lógico, uma caixa d’água não é uma
caldeira!
Bem..,
uma vez que não se pode “sair gastando” o jeito é não usar calor, assim,
economizamos energia e dinheiro e, de “quebra” ganhamos tempo na produção.
Fazendo o produto a frio, este livro diz que a “gente” só sai ganhando, vamos
ver.
No
“tacho” já demos “um jeito”. E o batedor? Ele é um equipamento caro e mais ou
menos complexo para “dar um jeito”. Devemos, então buscar outra saída, alguma
coisa que parece “esquisita” porém, pode funcionar. No “porão da nossa fábrica”
tem uma bomba centrífuga velha, “grandona” e meio desajeitada, usada quando a
água era “de poço”. Sua “garganta” de entrada mede umas duas polegadas de
diâmetro e a saída por volta de uma e meia polegada, qualquer material líquido
ou viscoso que passar por ela, sofrerá uma alta compressão e um movimento
intenso, ora..! não é isso o que buscamos com o “batedor”? apenas que, ao
contrário de colocarmos o “batedor” no líquido viscoso, este é quem irá até
ela, “a bomba batedora”, por meio de tubulação própria que deverá ser de ferro
para não “arrebentar” com a pressão e o calor produzido no caminho. Ligaremos
tudo e providenciamos um desvio na tubulação que retorna ao “tacho”, para
quando soubermos que o produto esteja pronto para envase, transferi-lo para as
formas.
Pronto,
batizaremos o “nosso invento” de “reciclador”, pois o material fica entrando e
saindo continuamente (reciclando) através da bomba até ser desviado para a
forma. E, tenham certeza, muitos tipos de material são possíveis de se fazer
neste “equipamento” (abaixo, um exemplo de reciclador).
Batimento por reciclagem

Fig. 18 – reciclador com
tanque lateral
Agora
já podemos produzir o “sabão nosso de cada dia”! Com um fogareiro a gás
ou elétrico fundiremos a gordura de coco no próprio tambor, sem, no entanto,
aquece-lo demais (lembre-se do “tacho” que é de plástico), aquecesse apenas o
suficiente para escoa-lo pelo gargalo da embalagem, passamos o conteúdo para o
reciclador através de uma peneira ou podemos utilizar a própria bomba para
recalcá-lo fazendo passar por um filtro que pode até ser improvisado, o que não
é muito difícil, termos assim, 200
kg de gordura no tanque, no inverno ou em regiões frias,
não podemos esquecê-la por muito tempo no reservatório sem trabalhá-la, pois
ela se solidificará rapidamente.
Num
recipiente à parte, já devemos ter preparados 200 kg de salmoura a 23°Bé
totalmente solubilizada sem material sólido decantado no fundo (sal), em outro
depósito já dispomos de 100
kg de silicato de sódio neutro misturados com 8 kg de lixívia de soda a
38°Bé, ainda temos, também, 100
kg de lixívia de soda a 38°Bé. Com todo esse material a
disposição, o único problema é mistura-los com estabilidade, pois é muito fácil
“quebrar” a emulsão e o sabão “talha” como leite que “azeda”. A salmoura e o
óleo oferecem uma resistência muito acentuada contra a estabilização da
emulsão, ainda que se acrescente o silicato e o hidróxido de sódio, a
dificuldade é grande, em verdade, a emulsão é possível, porém a um custo bem
alto demandando excesso de tempo e de energia. É preciso outra “saída
daquelas...”, viável e muito simples, pois o dinheiro é “curto” e um erro põe
tudo a perder.
Existe
no mercado, um produto que mistura água e óleo, trata-se de um poderoso
emulsificante sintético o, “nonil fenol de óxido de etileno”, o mais indicado,
é o de 9,5 moléculas de óxido de etileno, ele é muito eficiente, com 1% do peso
do óleo se consegue mais do que um “simples milagre” ele faz o “impossível”,
mantém, por tempo quase indefinido uma mistura perfeita da água com o óleo,
como o leite. Mais do que isso, ele proporciona uma superfície literalmente
“infinita” entre as fases (água/óleo), lembram do que falamos sobre a
“superfície”, em verdade, quando se liga a bomba, em questão de minutos e
muitas vezes, “em questão de segundos” o material fica pronto sem nenhum risco
e nem mesmo apresenta aquecimento, a reação é tão rápida que não há tempo para
a “exotermia” (aquecimento espontâneo) se manifestar. O principal, é que o
custo desse produto é compatível com a quantidade necessária não representando
nenhum acréscimo significativo no custo primário.
Produzir
sabão assim, virou um verdadeiro “carnaval”. Coloca-se tudo no reciclador de
qualquer jeito, rapidamente, lentamente, quente, frio, tudo de uma só vez, uma
coisa de cada vez, com mistura prévia ou não, na verdade, seria necessário
inventar algo inusitado para conseguir errar esse sabão, seria questão de
promover uma gincana para achar alguém capaz de dificultar a saponificação.
O
resultado é um sabão muito branco, macio, agradável ao tato e muito durável, se
eliminada a salmoura e abaixado o silicato ele será totalmente mecanizável e
“briga” de frente com qualquer multinacional. Sugerimos aos profissionais uma
análise da estrutura cristalina desse produto.
No
entanto, cabe uma observação de suma importância, durante o processo, quando se
notar no reciclador, que a emulsão começou a formar um creme suavemente
viscoso, deve-se abrir imediatamente a válvula de desvio e, através de uma
mangueira ou tubo passa-se o material para as formas se for o caso e, em 30
minutos, no máximo, o material poderá ser cortado.
É muito importante o acompanhamento da reação
para envasar na hora certa, pois antes do “ponto” a mistura não fica homogênea
e, depois do “ponto”, a reação ocorre num todo e progride em velocidade
uniforme. Se descuidar, ganha-se um bloco redondo de sabão no tanque, nos tubos
e, o mais “interessante”, na bomba, porém, nada que um britador não resolva.
Se
desejarmos um sabão mais pobre, essa receita suporta “heroicamente” mais 100 kg de salmoura. O
silicato pode ser, simplesmente suprimido, juntamente com o percentual de
lixívia. É conveniente não aumenta-lo, pois a quantidade aqui sugerida está já,
bem acima da ideal, muito silicato provoca o efeito da “barba” depois de alguns
dias, como já informamos.*
*Lembrem-se que as receitas aqui colocadas são quase centenárias, hoje com a prática cotidiana dos artesãos (ãs) existem métodos mais rápidos e com a mesma eficiência e qualidade das antigas formulações, as técnicas são as mesmas apenas nota-se mudanças na metodologia aplicada.
Abraços, Marcus.
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